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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Conversa de Mulher


                Toda mulher passa a vida tentando ser magra.
Não basta chegar ao peso ideal. Tem de ser seca, sarada, gostosa. Sonhamos ser Gisele Bünchen, ou seja, sem celulite, barriga, nada caído ou mole. Impossível! Sempre haverá algo fora do lugar. Somos humanas. Sabemos disso, mas não aceitamos.
Existe salvação?
Outro dia, li numa revista feminina:
“Homem não liga para corpo perfeito na cama. O que eles gostam é de mulher segura, que aceita os próprios defeitos numa boa e se solta sexualmente.”
Alívio.  Mergulhei em um mar de águas doces! Estava salva: daqui pra frente assumiria meu corpo, suas imperfeições e relevos. Isso me deixaria segura, safada e desinibida na hora H.
O meu pensamento seguinte é que deu problema, pois até chegar à cama precisamos atrair os machos, tendo que parecer magras e lindas!!!
     Saí do mar de águas doces e caí num atoleiro. O que fazer?
     Resolvi encarar os fatos de frente, ou melhor, de frente para um shopping.
     A sorte me sorriu: encontrei um jeans perfeito, daquele tipo que emagrece, levanta o bumbum, aperta a barriga e alonga as pernas. Show. Com uma blusa preta folgadinha e decotada fiquei ótima. Quase magra.
     Naquela noite conheci um cara lindo numa festa. Ele não parava de me elogiar, e ficamos. O beijo foi demais. Eu, cheia de champanhe na cabeça. Os amassos foram esquentando, até que perguntou: No seu ou no meu?
     Pausa.
     Gelei. Não posso. Se tirar a calça perfeita, tudo irá cair, perder a forma e ele terá uma grande decepção.
     Lembrei-me da revista. A palavra-chave era segurança de como se é: solte-se, confie em você, etc.
 Não deu. Inventei uma desculpa, sugeri a próxima semana.
Talvez ele ligue, tomara! Ficarei à base de suco e sopa a semana toda. E juro, vou treinar mais essa tal de segurança.

Diana

A fonte


Ri muito ao me lembrar quando um dia de manhã o pedreiro entrou lá em casa. Era um sábado bem cedo, umas sete horas. Ele tinha tocado o interfone para que eu abrisse a porta da rua. Até ele subir os dois lances de escada, eu tinha um minuto! O que faria? Pentearia o cabelo e tiraria o resto borrado da maquiagem, ou guardaria nossas roupas jogadas pela sala – a calcinha escancarada no encosto do sofá, a meia de nylon em cima do abajur, a gravata embolada no chão, roupas caídas por toda parte.

Um batom, sempre. Ajeitar a cara, sempre. Casa fica para depois.

Sentou-se à minha frente. Não sei se reparou em alguma coisa. Eu ainda na ressaca-furor da véspera, desconhecia o passo a seguir. A cada olhada na lateral que eu dava, descobria mais coisas impossíveis (como meu soutien) equilibradas na “sustentável leveza do ser”, pois se estendesse a mão num gesto – digamos assim – sistemático, a dúvida seria: esconder rapidamente ou equilibrar a peça em frente aos meus olhos, como a dizer “disgusting!”, com a cara de preparada surpresa de um inglês. Eu não sabia.

Não pude oferecer nem um café, que aliás, não sei fazer direito até hoje. Como ir à cozinha e deixar as provas do crime pela sala?
Decidi ficar falando com charme ao pedreiro de olho azul, atraindo sua atenção ao discurso, manipulando-o. Inventei algum outro assunto e terminei a conversa louca que eu pretendia lógica.

Quando ele foi embora, olhei-me ao espelho. A camisa do Marquinhos, três ou quatro números maior que o meu, abotoada errada, um lado mais curto. Eu jurava que estava com o vestidinho de fazer faxina. Mas mesmo com o cabelo bagunçado, os olhos cansados de quem não dormiu, eu estava sexy. Uau.
Olhei para a cama, vi a “fonte” largada displicente, como tudo em casa, ressonando levemente. Deitei-me ao seu lado, puxei-o para mim - com a esperança de recomeçar tudo de novo.


  Monique