Ri
muito ao me lembrar quando um dia de manhã o pedreiro entrou lá em casa. Era um
sábado bem cedo, umas sete horas. Ele tinha tocado o interfone para que eu
abrisse a porta da rua. Até ele subir os dois lances de escada, eu tinha um
minuto! O que faria? Pentearia o cabelo e tiraria o resto borrado da maquiagem,
ou guardaria nossas roupas jogadas pela sala – a calcinha escancarada no
encosto do sofá, a meia de nylon em cima do abajur, a gravata embolada no chão,
roupas caídas por toda parte.
Um
batom, sempre. Ajeitar a cara, sempre. Casa fica para depois.
Sentou-se
à minha frente. Não sei se reparou em alguma coisa. Eu ainda na ressaca-furor
da véspera, desconhecia o passo a seguir. A cada olhada na lateral que eu dava,
descobria mais coisas impossíveis (como meu soutien) equilibradas na “sustentável
leveza do ser”, pois se estendesse a mão num gesto – digamos assim –
sistemático, a dúvida seria: esconder rapidamente ou equilibrar a peça em
frente aos meus olhos, como a dizer “disgusting!”, com a cara de preparada surpresa
de um inglês. Eu não sabia.
Não
pude oferecer nem um café, que aliás, não sei fazer direito até hoje. Como ir à
cozinha e deixar as provas do crime pela sala?
Decidi
ficar falando com charme ao pedreiro de olho azul, atraindo sua atenção ao
discurso, manipulando-o. Inventei algum outro assunto e terminei a conversa
louca que eu pretendia lógica.
Quando
ele foi embora, olhei-me ao espelho. A camisa do Marquinhos, três ou quatro
números maior que o meu, abotoada errada, um lado mais curto. Eu jurava que
estava com o vestidinho de fazer faxina. Mas mesmo com o cabelo bagunçado, os
olhos cansados de quem não dormiu, eu estava sexy. Uau.
Olhei
para a cama, vi a “fonte” largada displicente, como tudo em casa, ressonando
levemente. Deitei-me ao seu lado, puxei-o para mim - com a esperança de
recomeçar tudo de novo.
Monique
Monique
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